A jornalista Mariana Mariotto relata sua viagem ao Muquém, distrito no interior de Minas Gerais
Ah! Minha terra pequenina, destas alturas tu me pedes para cantar tua história, e me chamas com antigas vozes de vento e geada. Então, manda ao menos um fiapo de tuas nuvens, um brilho fugaz de sol sobre cascalhos, uma faísca de alegria daqueles que aí ficaram para te plantar [...] (Maria Nazareth Carvalho em A Menina da Fazenda)
Muquém (MG), 19 de janeiro
Acabei de chegar no Muquém e minha primeira percepção é que talvez eu tenha errado na quantidade de livros. Aqui não tem sinal e nem wi-fi, então provavelmente serei obrigada a racionar livro – não seria a primeira vez. Esse que trouxe deve ter umas 50 páginas faltando; tenho que pensar bem se leio demais ou de menos. E nem é um livro bom. Só não desisti porque, justamente, agora só faltam 50 páginas.
Aqui também é bem mais longe do que eu imaginava – de porta a porta foram dez horas de viagem. Parti de São Paulo às 8h da manhã e cheguei em Caxambu, nas Gerais. De lá, uma van da prefeitura me levou até Carvalhos, uma cidade ainda menor que Caxambu – foi uma bela estrada ao pôr-do-sol; o trajeto durou mais ou menos uma hora e meia. Quando pensei que tinha finalmente chegado, ninguém menos que o vice-prefeito de Carvalhos me buscou com seu Gol velho e me trouxe até o Muquém por uma estrada de terra. As mulheres de Carvalhos me alertavam sobre ele: "Cai na conversinha dele não, viu, fia?". No final das contas, falamos sobre as tradições locais, a história do Muquém e times de futebol.
Recentemente, o Muquém foi considerado um distrito rural dos arredores de Carvalhos. Tem esse nome porque, de acordo com os moradores, os indígenas que ali habitavam secavam e salgavam a carne no sol, um processo que se chama "moquiar". Só que, pela falta de sal na região, os indígenas moquiavam a carne no dorso dos cavalos, levados a galope, para salgá-las com o suor.
Estou hospedada na casa de R., meu chefe. Ele é bastante engraçado e tem dois netos eufóricos, P. e A., que fingem um sotaque do interiorrr. A mãe de R., Dona L., tem oitenta anos e me parece ótima em comparação com as minhas avós - muitas vezes pensei que precisava falar alto ou, por costume, levantava para pegar algo para ela, coisa que ela claramente não precisava. Vou dormir na "Casa Verde", que é uma pequena suíte com duas camas. Todas as paredes são verde-escuro e as janelas são quadradas, pintadas de vermelho. Parece uma casinha de bonecas, só que uma versão meio mal-assombrada... Juro que tem um bicho nessa casa, consigo ouvi-lo respirar. Bem que R. tinha me alertado sobre o Gambá. Ele respira e geme e arranha o forro do telhado, como se estivesse ajustando sua caminha, se preparando para dormir.
Esse chalé verde já é praticamente meu. A primeira coisa que fiz foi abrir a cama; coloquei o tal livro ruim na cômoda ao lado e liguei o abajur. Abri minhas malas e separei meu pijama sobre a cama. Está tudo pronto para me receber de volta após o jantar. Disseram que tocariam um sino para avisar quando for a hora de comer.
Já tomei banho e aqui estou. Esperando.
Só sinto falta da minha mãe.
Sabe aquela sensação quando você chega em um lugar? Você olha para o chão e cai a ficha: Totó, acho que não estamos mais no Kansas – só que ao contrário. É estranho porque parece que vou viver para sempre aqui. Esqueci todos os meus problemas (e nem eram tantos). Parece que sou outra pessoa ou vivo outra vida. Este corpo já nem parece o mesmo. Talvez mudar-se fisicamente não seja a solução para tudo, mas já é um indício.
Acho que só me sinto assim porque ainda não consegui usar meu celular.
20 de janeiro
Tecedeiras do Muquém tecem colchas no tear com as cores da terra, dos pássaros, das flores campestres. Cardam lã de carneiro até deixarem os fios enrolados e cacheadinhos como cabelo de anjo. Tecedeiras do Muquém, as mãos ágeis também lavam roupa, areiam panelas de ferro que ficam brilhando como prata. Conhecem as luas, o tempo para o plantio e a colheita. Quando preciso, cavam a terra, arrancam batata e mandioca. Depois levam para o tear a cor dos colibris, das asas de borboletas, do céu e dos campos. (A menina da fazenda)
Faz chuva no Muquém.
Hoje visitei as casas das artesãs da comunidade, para fazer algumas entrevistas. Todas as residências eram muito humildes e tinham um cheiro abafado: uma mistura de mofo, comida e suor. As mulheres estavam ocupadas preparando o almoço e pareciam impacientes com a minha presença intrometida, respondendo perguntas da maneira mais objetiva possível. Quando perguntava sobre suas profissões, elas quase sempre respondiam: "Faço bordado e arrumo a casa" ou "Faço tear e marmita". Enquanto praticamente não vi garotas da minha idade na cidade, todas as mulheres são ásperas, trabalhadoras e aparentam ser muito mais velhas do que realmente são. Seus dentes são tortos e sujos; a pele, franzida. Eva, irmã de Noeme, é basicamente uma relíquia por aqui: ela foi ao Japão com R., em 1999, para dar um curso de tecelagem na embaixada do Brasil em Tóquio. Eva aparenta ter 103 anos, mas tem 77 (cheguei a cogitar a possibilidade dela não saber a própria idade).
A mulher e a galinha // Nunca devem passear; // A galinha bicho come, // A mulher dá que falar. (Helena Morley em Minha Vida de Menina)
No Muquém há duas famílias numerosas: da Cunha e Maciel. Eva é Maciel. O vice-prefeito, Paulo, é da Cunha. Mônica, a desenhista e também caseira da propriedade de R., é da Cunha Maciel – pra mim foi uma surpresa quando soube que ela, uma da Cunha, casou com um Maciel; como em Romeu e Julieta, só que sem a parte da tragédia. Também tem outras famílias, claro, como os Carvalho, os Ferreira ou os Resende, mas é curiosamente grande a quantidade de pessoas que são da Cunha e Maciel.
Antônio muito fez pela cidade além de prenhar Odite. Na minha infância, parecia-me possível uma mulher ter cento e vinte filhos, o que mais tarde me deixou acabrunhada com a ideia, por mais que o último filho de Odite tenha nascido quando ela tinha noventa e sete anos. (Fernanda Young em Posso pedir perdão, só não posso deixar de pecar)
A cidade é basicamente o conjunto de uma única rua pavimentada e uma praça: há a Escola de Artesanato, um barzinho, uma igreja e duas queijarias: a fábrica azul (Queijaria Montanhês) e a caseira (Queijaria do Lé). Conheci os proprietários da fábrica azul: Dona Mailde e um homem cujo nome não me lembro, mas tem as mãos grandes e secas, como se você apertasse um bloco de barro. Eles também vendem dúzias de ovos a oito reais. Sua casa também é azul, no mesmo tom da fábrica. E nada contra a fábrica, muito menos contra Dona Mailde, mas acabei comprando os queijos da produção caseira.
Na praça, em frente à igreja, há alguns bancos de concreto com o nome de quem o ofereceu para a cidade, é como uma comprovação de cidadania. A igreja, pintada de branco com detalhes em azul e amarelo, estava descascando; mas explicaram que ela logo seria pintada novamente, para a festa de São Lázaro. A adoração pelo santo aqui é grande. No interior da igreja, há uma imagem de Jesus e, ao lado, é claro, uma estatueta em tamanho médio de São Lázaro. Essa estátua já tem 85 anos e é provavelmente o objeto mais sagrado da região. Algumas famílias daqui possuem bandeirolas com a imagem da estatueta na porta de casa.
[...] fizeram uma promessa para São Lázaro; construir uma igreja muito bonita, e veio de São Paulo, especialmente modelada, a imagem de São Lázaro, contagiante na sua beleza com um cãozinho aos pés. Aconteceu o milagre! (A Menina da Fazenda)
Dizem os moradores que a cidade era tomada pela lepra. "As pessoas que chegassem de fora até as fazendas embrulhavam as mãos em jornal para abrir porteiras com receio da contaminação", escreveu Maria Nazareth de Carvalho em A Menina da Fazenda (2010). Até que trouxeram a estatueta em 1939 e os casos de lepra começaram a diminuir cada vez mais. Hoje, milhares de fiéis da região fazem a Caminhada da Cura, a pé ou a cavalo, em um trajeto de 30km, do centro de Carvalhos até a igreja do Muquém. A celebração desbanca a Festa Junina, que aqui é deixada para comemorar em julho.
Ontem foi dia de Santa Cruz. Todas as primas só vão à festa de tarde, mas eu aproveito desde que começam a fincar os bambus. (Minha Vida de Menina)
21 de janeiro
Todos os sons propagando-se no ar, puros, primitivos de mistura com o cheiro do gado, de leite, de terra molhada, de urina e excremento. (A Menina da Fazenda)
A noite está aberta e clara no Muquém. Escrevo enquanto escuto a orquestra dos grilos, sapos e cigarras lá de fora. Os dias são tão leves, rendem muito e passam rápido. Aqui na roça todos dormem cedo e o silêncio é imortal. A noite é longa para os que vêm da cidade, e eu me assusto com a solidão, o escuro e os barulhos repentinos do Gambá ou das vacas.
Acordamos hoje e fomos à cachoeira com Tati (uma Maciel), que me contava as histórias de cada pessoa que cruzávamos pela estrada. Tinha um homem aparentemente comum, mas logo vi que ele não formulava palavra alguma. Tati explicou que existe uma teoria na cidade em que ele e seus dois irmãos são mudos porque os pais são primos de segundo grau.
Ali e nos bares, junto às pontes do cais, nas rodas de pôquer, em toda a parte: falava-se da vida alheia. (Jorge Amado em Gabriela, cravo e canela)
Passamos por uma plantação enorme de eucaliptos. Tirei no mínimo dez fotos, sem sucesso, porque nenhuma delas registrou de fato o verde-limão das de folhas, ou a madeira quase acinzentada, ou a luz pálida e nublada da manhã entrando por entre os longos troncos e galhos, muito menos o cheiro fresco da multidão de árvores ou o barulho do vento fazendo com que elas balançassem, como se imitasse a chuva, mas não de um jeito caótico e sim com muita calma, em plena consciência.
A cachoeira tinha pedras mistas e brilhantes igual espelho; a água era gelada até os ossos e formava uma piscina rasa cor de âmbar. Na volta do passeio, um bambuzal verde-claro até o céu. No topo do pequeno morro, víamos o Muquém lá de cima: uma vastidão de terra vermelha e muitos tons de verde. "Você precisa ver no inverno, isso tudo fica marrom", Tati me contou. Muitos milharais e bananeiras beiravam nosso caminho, as folhas atrapalhadas pelo vento alto. Conheci mais algumas artesãs, dessa vez crocheteiras. Tentei fazer um pouco de crochê mas logo desisti, pela falta de habilidade e paciência.
Não sei se é o ar limpo, o contato com a natureza e tantos animais, ou quem sabe essa coisa de sair um pouco da cidade e da rotina. Tenho me alimentado tão bem, comendo frutas e verduras aos montes, sucos feitos na hora, comidinhas feitas no fogão à lenha, doces gostosos que remetem à infância. Ou talvez seja a companhia alegre dessa família que pouco conheço, mas que me trata tão bem. A. e eu jogamos cartas e pareceu, por um breve instante, que éramos melhores amigas. P. e eu também nos divertimos muito, quase sempre falando sobre cavalos ou passeios que fizemos a cavalo. Dona L. e eu combinamos de ver juntas a nova novela das nove, que começa amanhã. Sugeri:
– Amanhã tem novela com chá e bolo, que tal?
– Opa, acho ótimo!
E aí debatemos por muitos minutos qual seria o sabor do bolo que ela faria.
22 de janeiro
Hoje cedo, Igor, um artesão local, me ensinou a usar o tear de pedais, coisa que depois de um tempo percebi que vicia: assim que você acaba de tecer uma fileira, dá vontade de começar outra. São centenas de fios, indo e vindo numa trama de algodão branco e laranja. O fio laranja forma um desenho padronizado pelos fios brancos, assim sucessivamente, até cansar. Eu mal alcançava os pedais de madeira, e o pente liço de aço inoxidável, inovação trazida por R. há muitos anos, aperta os fios formando um tecido rígido. Mal dá para acreditar que foi aquela máquina quem fez.
[...] uma mulher que cortava os próprios cabelos com as mesmas tesouras com que tosavam os cavalos. Ela não tinha medo de nada, fosse no claro, fosse no escuro, e falava o que pensava em qualquer situação. Confundia sua autoridade com coragem, confundia sua coragem com autoridade – ambas sobravam nela, na medida em que não era mulher de se envergonhar de nada, nem de suas falhas. E não gostava de pendências. Sem medo de ameaças, resolvia o que tinha que resolver. (Lu Lacerda em Saudade não viaja bem)
C., sócia de R., chegou e tive que mudar de casa. Agora estou na Casa Azul com as crianças, que na minha opinião é muito melhor e mais confortável. A Casa Verde era escura e as paredes com texturas me davam medo. Fora, claro, o Gambá.
A. e P. estão cada vez mais próximos de mim. Eles gostam de conversar por longos períodos, perguntam coisas interessantes e não são idiotas igual a várias outras crianças que conheço. Brincam com todos daqui, passam o dia todo na rua e, de noite, apagam sem acordar nem só uma vez. Levantam às seis da manhã para tirar leite da vaca com Osvaldo (ou ‘Varrrdo). E depois fazem tudo de novo.
Quando eu era criança, meus primos e eu acordávamos num frio de rachar e descíamos encapotados para o curral com copos cheios de Nescau. A manhã tinha uma luz quase azul, de tão cedo que era. Aquele cheiro de cocô de vaca, o barulho das botas de borracha. Antônio, na companhia de Beethoven, um cão de porte médio, preenchia nossos copos com aquele leite quente e espumado, direto da teta das vacas.
23 de janeiro
Não precisam ter pena das meninas pobres, pelo fato de serem pobres. Nós éramos tão felizes! (Helena Morley em nota à primeira edição de Minha Vida de Menina)
R. veio ao Muquém pela primeira vez em 1986, por indicação de uma colega tecelã. Se hoje é pequeno, imagino o tempo todo como era na época. Esse pedacinho de lugar, no meio do nada, longe de tudo. Aqui, R. conheceu Eva e Noeme, e aí veio o começo de tudo: os três trocaram técnicas de tecelagem e estabeleceram parcerias produtivas. Até hoje é aqui que R. produz suas criações. O projeto foi crescendo e crescendo; hoje quase todas as mulheres da região são artesãs e trabalham no artesanato têxtil em grande escala, como tecelãs, bordadeiras ou crocheteiras. Eu vim pra cá pra isso, para conhecer o começo de tudo.
O concretismo de algumas coisas às vezes é bastante necessário. Eu já sabia, mas hoje eu também conheço a grandiosidade do trabalho do R. – não apenas no sentido figurado, já que é bastante coerente com as coisas que valorizo, mas também no sentido literal. É muita coisa. Imagine 40 anos de trabalho. R. tem muitas ideias e é muito planejador; às vezes ele fica quieto, mas é porque com certeza está organizando ou antecipando alguma coisa. Ele possui essas mentes mirabolantes em que tudo e todos ao seu redor estão em seu devido lugar, fazendo aquilo que ele determinou previamente. Possui hora e humor marcados e gosta muito de caminhar – sozinho. Itinerante, faz sessões de terapia e astrologia online. Estamos há um ano trabalhando juntos e me sinto… sei lá, sortuda?
No final da tarde, após o trabalho, P. e eu saímos para andar a cavalo. A chuva fazia cerimônia para começar. Andei no Violão e ele na Viola, dois cavalos marrons, teimosos e preguiçosos. Violão só retornava se fosse pela direita e exigia a rédea sempre folgada, mas ia a dois por hora. Viola às vezes empacava, como se dissesse "chega", depois voltava a andar. Os dois cavalos se davam muito bem e não iam onde o outro não estivesse.
Quando ganhei de meu pai uma sela para crianças, me senti livre, como se eu tivesse conquistado alguma coisa na vida. (Saudade não viaja bem)
P. me ensinou a desselar os cavalos e depois os puxamos, cada um o seu, até depois da porteira azul, para ficarem soltos no campo novamente. Passei a mão nos dois cavalos e os agradeci pelo passeio.
Amanhã, às seis da manhã, iremos embora. Além dos queijos, comprei também outras comidinhas mineiras, e um pouco do artesanato têxtil aqui do Muquém: tudo feito no tear, depois desenhado pela Mônica (da Cunha Maciel) e bordado à mão pelas bordadeiras. Também levo comigo pedras espelhadas, a lembrança de boas refeições, paisagens maravilhosas, uma companhia diferente e a certeza de um bom trabalho.
Hoje, a noite é tecida por muito vento e chuva. Repito minhas roupas de frio pela terceira vez. É sinal de ir embora.
Sem luz elétrica até o ano 2000, com uma única ruazinha de terra entre morros e vales, o bairro abrigava cerca de 300 pessoas, quase todas pertencentes às famílias Cunha e Maciel, e parecia ter parado no tempo. (Maria Emilia Kubrusly e Renato Imbroisi em Desenho de Fibra)
São Paulo (SP), 28 de janeiro
Sinto falta do silêncio, do vento, do ar limpo, das andanças. Sinto falta das crianças ao meu redor o tempo inteiro e penso em como seus "sotaques" da roça foram se perdendo ao longo da viagem de volta para São Paulo. Penso no abraço que A. me deu quando nos despedimos e no fato de que ela não vai se lembrar disso pra sempre. Acho que esse é o problema, a gente cresce e esquece das coisas. Mesmo assim, toda vez que vou para o campo, sinto o cheiro do cocô de vaca e, de novo, tenho seis anos de idade.
Oh, o tempo! Moinho implacável que tudo mói com seus dentes de pedra. Só fica escorrendo na memória um tênue fio de lembrança. Cordão umbilical que nos liga aos ventos, aos campos, aos rios da nossa vida. (A menina da fazenda)
*
REFERÊNCIAS LITERÁRIAS
Desenho de Fibra: Artesanato Têxtil no Brasil (2011), de Maria Emilia Kubrusly e Renato Imbroisi
Gabriela, Cravo e Canela (1958), de Jorge Amado
A Menina da Fazenda (2010), de Marina Nazareth Carvalho
Minha Vida de Menina (1942), de Helena Morley
Posso pedir perdão, só não posso deixar de pecar (escrito em 1987-88 e publicado em 2019), de Fernanda Young
Saudade não viaja bem (2022), de Lu Lacerda
Comments