Velha Companhia publica os textos de sua trilogia 'As Águas'
- Pedro A. Duarte
- há 4 horas
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Editado pela Javali, livro reúne em volume único as peças Cais ou da Indiferença das Embarcações, Sínthia e Casa Submersa
A Velha Companhia está lançando nesta terça-feira, 16, um livro que reúne os textos das peças que compõem sua trilogia de espetáculos, nomeada As Águas. Escritas e dirigidas por Kiko Marques, as peças são sagas familiares que se valem dos corpos de água enquanto uma metáfora para expressar aspectos das vidas de seus personagens.
Em entrevista para a Revista Galérica, Kiko Marques contou que a ideia de uma trilogia temática surgiu no início da concepção da peça Cais ou Da Indiferença das Embarcações (2012), primeira obra da tríade. “Seria uma trilogia que falaria da influência das águas e teria uma trajetória que acabou se cumprindo". As demais obras que compõem a trilogia são Sínthia (2016) e Casa Submersa (2019).
Em Cais… são as águas que levam, trazem as marés e as ilhas. E Sínthia se estabelece como a água parada de uma lagoa, que é um personagem central da peça e também fala da família, da água estagnada, daquela água parada e pútrida de uma família de classe média carioca e de alguma forma ligada ao movimento de repressão da ditadura militar. E [a trilogia] termina com um um mergulho nas profundezas de uma água turva e podre da política brasileira (KIKO MARQUES)

Além da metáfora que dá o tema para a trilogia, outra marca que as três peças compartilham é o retrato de períodos históricos emblemáticos da História Brasileira: seja o Estado Novo (1937-1946), a Ditadura Militar (1964-1985) ou a Nova República – mais precisamente o contexto do Governo Temer (2016-2018). As peças partem da vida cotidiana de seus personagens para refletir sobre estes períodos.
Alejandra Sampaio, atriz da companhia, comparou a poética das peças com o cotidiano dos trabalhadores paulistanos: “estamos vendo a vida de uma pequena empresa onde tem os funcionários que moram no M’Boi Mirim e vão chegar para trabalhar numa região como Moema ou Jardins”, ela exemplificou. “Na história dessas pessoas não vai dar para separar o tempo de transporte, a vida que eles levam no ônibus, se tem greve no meio…”
Por exemplo, a greve de Sínthia está totalmente enraizada na vida das pessoas porque, mesmo que não seja pano de frente, é a rede de vida, é a via que você está trafegando, que você vai caminhar. São os afluentes dessas águas. Você vai ter que passar pela manifestação, vai ter uma neta que vai estar na manifestação, vai ter uma avó que não vai poder descer porque a rua tá parada. Então é de uma maneira mais sutil. Ela é menos... a política está revestida de vida cotidiana (ALEJANDRA SAMPAIO)
Kiko entende que a atemporalidade das obras se dá pelo fato de elas versarem sobre a vivência humana. “O teatro tem esse poder de tocar em algo que a política não consegue enxergar, que a aula não consegue chegar”, ele refletiu. “O teatro tem uma capacidade de comunicação com público, com o leitor no caso [da publicação] das peças que abarca isso tudo, mas transcende de uma forma muito particular. Acho que as três obras têm essa vocação de trazer o público para algo sobre o ser humano, para um olhar sobre o ser humano e sua aventura nesse planeta".
A extensão de cada uma das peças também chama a atenção, com os espetáculos chegando a completar quase três horas de duração. Apesar de diversas instituições culturais pedirem por espetáculos de duração mais curta (uma hora e meia; quando muito, duas), a Velha Companhia prefere apostar em peças com uma duração um pouco maior: “enquanto companhia, nós pensamos que o teatro é uma vivência”, Kiko explicou. “É diferente de uma contemplação, o tempo de contemplação é um elo muito restrito. Mas quando você vai ao teatro é uma experiência profunda de relação. A coisa do tempo presente, da pessoa presente, da presença, da energia da pessoa, da vida pulsante ali na sua frente, ela entra bastante no campo da relação, do encontro".
Os textos foram elaborados tendo o objetivo de oferecer ao espectador esse tempo maior para absorver aquilo que está sendo apresentado. “Eles foram pensados para esse tempo de entrada”, Kiko explicou, “de conhecer algo, de se relacionar com esse algo, desse relacionamento amadurecer, o tempo da dissolução disso e o tempo da saudade no final.” Ele traz o exemplo da peça Cais…: quando terminou de redigir a versão final do texto, ele anunciou para a companhia que tinha escrito uma peça “imontável” – justamente por ser um espetáculo que exigia 14 pessoas em cena (dois músicos e 12 atores), com a necessidade de ser apresentado em um espaço multiuso (o cenário era um cais com plateias em ambos os lados de sua extensão), além da duração de três horas. No fim das contas, eles demoraram seis anos para conseguir, enfim, montar o espetáculo.
Alejandra recordou de quando o diretor teatral José Possi Neto foi assistir ao espetáculo. Após a apresentação, ele teria dito para a trupe que eles “cumprem a função do artista". “A gente tem que ser artista”, ela afirmou em entrevista. “Se a regra das instituições é: ‘vocês têm de fazer peças com elenco de uma pessoa até três, porque senão o dinheiro não dá; vocês tem que fazer com duração de uma hora’, a função do artista é questionar paradigmas. Nós somos provocadores. Então, um artista nunca vai se adequar. Se a gente precisa de três horas, 10 horas, contra todas as regras exigentes, paradigmas, a gente vai se contrapor.”
A publicação da trilogia pela Editora Javali faz parte de um fomento recebido pela companhia para um projeto denominado “Empatia”. Além da publicação do livro, o projeto prevê a pesquisa para uma futura adaptação de Crime e Castigo (1866), de Fiódor Dostoiévski. Uma temporada comemorativa de Cais… foi encenada entre 07 e 23 de fevereiro no Teatro da USP – Butantã como parte do projeto. No ano passado, também foram realizadas leituras dramáticas das peças da trilogia nas quais outras companhias interpretaram os textos: em 03 de novembro, o Grupo Pandora de Teatro leu Casa Submersa; em 14 de novembro, a companhia Mungunzá leu Sínthia; e, por fim, em 07 de dezembro, a Companhia de Teatro Heliópolis tal leu Cais.

Uma trilogia para contar a história da Velha Companhia
A companhia teatral foi fundada em São Paulo no ano de 2003, a partir da reunião de Kiko Marques, seu diretor artístico, Alejandra Sampaio e Virgínia Buckowski – que, além de atrizes, também são as produtoras dos espetáculos. O trio se conheceu no Círculo de Comediantes, grupo dirigido por Marco Antonio Braz. O espetáculo inaugural da Velha Companhia foi Brinquedos Quebrados, uma peça escrita e dirigida por Kiko.
Ainda que os espetáculos que sucederam a Brinquedos Quebrados tenham recebido críticas positivas e a visita do público, a primeira obra da trilogia, Cais ou Da Indiferença das Embarcações parece representar um ponto de virada na história da Velha Companhia. A trama se passa entre os anos 1931 e 1997, mais precisamente durante as viradas de ano, tendo como ambientação a Ilha Grande, distrito de Angra dos Reis que passou a se urbanizar devido a instalação de um presídio. A peça retrata os traumas geracionais perpetrados pela violência masculina e é narrada por um velho barco, o Sargento Evilázio – papel interpretado originalmente por Walter Portella (1935-2015) e, depois, Roberto Borenstein.
A Velha Companhia começou a elaborar o espetáculo ainda em 2006 de maneira colaborativa e por meio de improvisos, utilizados como maneira de conceber as cenas. Como o espetáculo era “imontável” a companhia passou os seis anos seguintes tentando encontrar algum parceiro que pudesse patrocinar a montagem da peça. Eles receberam muitos “nãos” devido ao tamanho da produção: o elenco numeroso, as necessidades do cenário e a duração. Enquanto isso, Kiko reescrevia o texto e reunia atores e atrizes para realizar novas leituras. O sonho era que o veterano Walter Portella interpretasse o barco como uma maneira de representar a perenidade da vida, mas o ator já estava com a idade avançada e a saúde debilitada, e o grupo se perguntava até quando precisariam esperar.

Quem comprou o sonho da Velha Companhia foi Fernanda Capobianco, que viu o potencial daquele espetáculo. “Quando a Fernanda olhou para aquele capital humano”, Alejandra recordou, “ela comprou isso. Ela arriscou, mas tinha visto o potencial. Ela não foi boba.” Cais ou Da Indiferença das Embarcações estreou em 29 de outubro de 2012 no Instituto Cultural Capobianco como parte do projeto “Obra Inédita”, que visava incentivar a dramaturgia nacional.
A aposta de Fernanda deu certo, com o passar do tempo o espetáculo começou a chamar a atenção do público por meio do boca a boca e, também, da crítica teatral. “O Instituto Capobianco foi a grande virada da companhia nesse sentido”, Virgínia afirmou. “Aí, depois, foi só uma coisa puxando o fiozinho da outra, porque começaram a aparecer os críticos: [José] Cetra, Alexandre Mate, um pessoal da cena teatral que a documenta". Alejandra também recordou da presença de Valmir Santos e Wellington Andrade e quando refletiu sobre o sucesso do espetáculo enxergou uma conjunção de fatores: “acredito que seja um o coletivo de esforços profissionais, de talentos na cena e fora da cena, trabalhando junto e olhando para a obra. E a obra se sobrepôs a todos nós”.
Antes do Cais…, a gente já tinha produções que tinham um olhar da crítica e do público. Mas acho que esse espetáculo veio coroar essa coisa meio grandiosa, não sei se pelo tamanho do elenco, pela dramaturgia… Tinha esse caráter grandioso dentro do teatro de grupo. Acho que isso criou atenção. Começaram a se perguntar: "Quem são essas pessoas? Quem são essas figuras?" Claro, no sentido de produção, somos nós três [Alejandra, Kiko e Virgínia]. Mas a companhia vai além de nós três, sabe? A companhia tem as figuras mitológicas que habitam em volta da gente e que construíram junto. Então, eu acho que o Cais… veio coroar isso. Esse grande encontro (VIRGÍNIA BUCKOWSKI)

Além do sucesso de público e crítica, a peça também foi reconhecida em premiações. Kiko Marques recebeu o prêmio Shell, o APCA e o Aplauso Brasil na categoria de Melhor Autor e o prêmio Qualidade Brasil na categoria de Melhor Diretor. Ao longo das temporadas, espectadores chegaram a “competir” entre si para saber quem tinha assistido ao espetáculo mais vezes e, quando a peça foi reencenada no início deste ano, os ingressos esgotaram em apenas 10 minutos.
Sínthia, o segundo espetáculo da trilogia, partiu da história de vida de Kiko Marques, que tem sua origem em uma família de militares da classe média tijucana. Durante a gestação, Kiko foi esperado por sua família como uma menina e seu nome escolhido para aquela criança seria Sínthia. “O tronco da família da minha mãe vem de um machismo muito forte”, Kiko explicou. "E nós queríamos falar disso".
Um dia, eu tive uma visão olhando minha mãe. Foi vendo minha mãe numa infelicidade muito grande, sentada na mesa – uma mulher não cumprida – na noite de Natal, depois de ter cozinhado para milhões… Eu tive um insight, uma visão artística. Pensei: "E se um dia eu, que saí [de casa] para viver a minha vida de artista em São Paulo, retornasse em um Natal, não como eu, mas como essa filha que essa mulher não teve? E se esse ato fosse feito?” Se fosse realizado não por uma questão pessoal, mas por compaixão, por amor, por amor a essa pessoa. Desse mote nasceu Sínthia (KIKO MARQUES)

Assim, a trama acompanha as trajetórias de Maria Aparecida (interpretada por Denise Weinberg e Alejandra Sampaio) e de seu filho caçula Vicente (Kiko Marques), esperado por ela como uma menina. A narrativa inicia em 1968, ano de nascimento da criança, e atravessando os anos de chumbo da Ditadura Militar até chegar um reencontro familiar no Natal de 2013, penúltimo ano de atividade da Comissão da Verdade. O espetáculo estreou em 20 de agosto de 2016 no Espaço dos Fofos.
Em alguma medida, a temática de Sínthia esbarra na vivência de pessoas trans e, por isso, a Velha Companhia também chegou a convidar diversas pessoas que pudessem falar sobre essa temática para participar das oficinas que levaram à criação do espetáculo. Dentre essas pessoas, citamos a dramaturga britânica Jo Clifford (autora do monólogo O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu), o psicanalista marroquino Thamy Ayouch e a ONG Brenda Lee.
Em entrevista, Virgínia recordou da visita que a ONG Brenda Lee realizou para assistir a um ensaio do espetáculo relatando uma recepção positiva do espetáculo. “Elas olharam para aquilo e, naquele momento, começaram a elogiar o Kiko. Não tinha ainda essa questão para elas, pelo menos enquanto plateia, de ele não pode fazer [o papel] por ele ser hétero. Isso foi essa primeira fase". Ao mesmo tempo, a atriz e produtora também se recorda de que outras pessoas chegaram a apontar que eles estavam lidando com um tema delicado. Tanto Kiko como Virgínia e Alejandra concordam que em uma encenação atual de Sínthia, o elenco precisaria ser repensado. “Por essa questão desse lugar familiar, na época nós entendemos que quem teria de fazer [o papel de Vicente/Sínthia] seria eu”, Kiko explicou. “Porque é performático, eu estava falando de mim. Hoje, nós não faríamos da maneira como fizemos. Não por não acreditar artisticamente naquela visão, mas de fato por uma questão política, social, de inclusão, de representatividade, de trazer esses corpos trans, para a cena, para reconhecê-los".

Virgínia também apontou a leitura de Sínthia realizada pela Cia Mungunzá ano passado como um ponto de reflexão interessante. Seria esperado que Fábia Mirassos lesse o papel da Sínthia, no entanto a atriz leu o papel de Maria Aparecida, mãe da personagem. “A gente achou isso muito interessante”, Virgínia relatou. “Em que momento vamos chegar nesse teatro onde tenhamos todos no palco, mas não só fazendo os papéis que cabem a elas na sociedade? Um momento no qual qualquer um pode fazer qualquer papel. Então eles trouxeram esse ponto a mais”.
Assim como na peça antecessora, Sínthia também foi condecorada em premiações. Kiko Marques venceu o APCA de Melhor Direção. No prêmio Shell, Denise Weingberg foi indicada na categoria de Melhor Atriz, enquanto Kiko foi indicado como Melhor Diretor.
Em 2017, a Velha Companhia também estabeleceu uma parceria com a Associação Zona Franca, um coletivo voltado a projetos de pesquisa e ações formativas em diversos segmentos das artes. Quem realizou esta ponte foi Ruy Tone. Em entrevista, Virgínia lembrou de Fernanda Capobianco e Ruy como parceiros fundamentais. “Claro, temos parceiros incríveis, como o Sesi e o Sesc, não tem como negar”, ela explicou. “Só que esses dois, especificamente, propiciam a continuidade de um trabalho de grupo". Para ela, mais do que proporcionar temporadas com tempo específico de duração, o Instituto Capobianco e a Zona Franca se constituem como espaços onde a companhia pode dilatar o pensamento e fazer conexões. “Já que estamos falando da existência de uma companhia, ela só é possível por isso. Se não tem esses olhares e esses espaços, fica muito difícil. É por isso que muitas companhias acabam, por ficarem nessa dependência de vender espetáculo".
Já a concepção de Casa Submersa, último espetáculo a compor a trilogia, ocorreu durante as oficinas de Sínthia. Uma das participantes participou de um improviso no qual Kiko Marques interpretava um senador corrupto. Ela entrava em cena gritando com o senador. Quando a cena acabou ela revelou para Kiko que aquilo tudo era verdade: seu pai havia sido assassinado a mando de um senador e, desde então, sua família vivia em silêncio. Outro ponto de partida do espetáculo foi um sonho que Kiko teve no qual ele mergulhava em águas muito turvas, até chegar em uma casa submersa.

A trama de Casa Submersa se passa em 2018 quando a bióloga Maíra (interpretada por Virgínia Bukowski) parte em uma viagem para encontrar suas próprias origens após um encontro com uma figura proeminente da política do país (interpretado por Kiko Marques). Virgínia pontuou que, neste espetáculo, a representatividade era fundamental para seu discurso e, por isso, o grupo convidou a atriz de origem indígena Sandra Nayna para compor o elenco. Kiko também teve a oportunidade de passar um mês na Amazônia para poder escrever o texto, graças a uma parceria que a companhia tem com Ruy Tone, que atua na Fundação Almerinda Malaquias. O espetáculo estreou em 29 de agosto de 2019 no espaço cênico do Sesc Pompeia. Sua apresentação também rendeu à companhia indicações ao prêmio Shell e ao APCA.

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As Águas (2025), de Kiko Marques
Capa e diagramação: Vitor Carvalho
Gênero: Dramaturgia / Sagas
Páginas: 384
Onde comprar: Editora Javali - R$ 60,00
SERVIÇO
Lançamento do livro As Águas
Livraria Bibla
Pça. Professora Emilia Barbosa Lima, 58 - Vila Madalena, SP
16 de setembro
das 19h às 21h30
*Durante o evento, o livro será vendido por R$50,00
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NOTA
A reportagem foi editada por Luca Scupino.
Leia a entrevista completa dos fundadores da Velha Companhia para Pedro A. Duarte.
APÊNDICE
Os elencos da trilogia
Cais ou Da Indiferença das Embarcações
Barco Sargento Evilázio – Walter Portella / Sérgio Borenstein
Poita Rosiméri – Rose de Oliveira
Magnólia – Virgínia Buckowski
Nilmar – Marcelo Marothy
Bonifácio – Maurício de Barros
Waldeci – Kiko Marques
Walcimar – Marcelo Laham
Berenice – Alejandra Sampaio
Walciano – Marco Aurélio Campos
Juciara – Patrícia Gordo
Mãe, Polaca, Marlei e Valnei – Maristela Chelala / Tatiana de Marca
Pai, Cachorrinho, Osório, Padre e Neival – Marcelo Diaz
Sínthia
Maria Aparecida – Denise Weinberg e Alejandra Sampaio
Vicente / Sínthia – Kiko Marques
Luiz Mário – Henrique Schafer / Silvio Restiffe
Nôra e Ana – Virgínia Buckowski
Ico, músico e médico – Marcelo Diaz
Luizinho, músico e paisano – Marcelo Marothy
Conrado e funcionário do IML – Valmir Sant’Anna
Cezinha, músico e carcereiro – Willians Mezzacapa
Casa Submersa
Maíra – Virgínia Buckowski
Senador – Kiko Marques
Escafandrista – Leonardo Fernandes
Maíra Mãe e A que Ria das Dores – Alejandra Sampaio / Juliana Sanches
Valmir Sant’Anna – Pai (O que Gostava dos Bichos)
Tubarão, Josilon e Coro – Marcelo Diaz
Bióloga, Dulce e Coro – Sandra Nayna
Juninho, Amparo e Coro – Adriana Dham
Miel, Anunciação e Coro – Ana Negraes
Renê, Mercês, Enfermeira do posto e Coro – Patrícia Gordo
Músico, Bentinho e Concierge – Bruno Menegatti
Salsicha, Marcos Túlio e Coro – Marcelo Marothy
Psiquiatra, Coro e Cantor – Rodrigo Vellozo
Augusto, Seu Dejair e Coro – Willians Mezzacapa