As Personificações de Petra von Kant
- Pedro A. Duarte
- 3 de mai.
- 26 min de leitura
Atualizado: 7 de mai.
Pedro A. Duarte resgata o contexto de criação da peça alemã, além das três montagens brasileiras
Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), foi um cineasta alemão cujo trabalho passou tanto pela vanguarda, sendo um dos principais expoentes do Novo Cinema Alemão, quanto por vertentes mais comerciais - ele se inspirava muito na maneira com a qual a Hollywood clássica dialogava com o grande público. Os temas centrais de sua obra normalmente são a violência e a dominação; a personalidade feminina; e a homossexualidade. Além disso, foi um artista bastante prolífico, tendo lançado 37 filmes para o cinema, televisão ou vídeo e quatro séries. Tudo isso em apenas 17 anos de carreira, além de ter trabalhado em 30 peças teatrais (seja como dramaturgo ou diretor) e produzido quatro obras radiofônicas.
Die Bitteren Tränen der Petra von Kant (As Lágrimas Amargas de Petra von Kant) é uma peça teatral escrita por Fassbinder em 1971 e que foi transformada em um filme no ano seguinte. Conta a história da renomada estilista Petra von Kant, que acaba de deixar seu marido por estar descontente com a relação. Ela vive em seu apartamento-ateliê com sua assistente Marlene, uma moça que Petra trata praticamente como uma escrava e que permanece em silêncio no decorrer da história. Um dia, sua amiga Sidonie a apresenta para a jovem Karin e Petra se apaixona à primeira vista pela garota. Enamorada, Petra promete transformar Karin em uma modelo de sucesso e as duas iniciam um relacionamento, porém alguns meses depois a relação se desgasta. Com isso, Karin abandona Petra, deixando-a de coração partido. Durante sua festa de aniversário, Petra fica bêbada e desconta sua frustração na própria mãe, Valerie, na filha Gabriele e em Sidonie.
Uma refilmagem realizada pelo cineasta francês François Ozon foi lançada em 2022. Nela, os papeis de Petra, Marlene e Karin foram transformados em personagens masculinos, reforçando o caráter autobiográfico das obras originais de Fassbinder.
ALEMANHA, 1971
A tarefa de reconstituir o contexto de produção da peça de Fassbinder não é fácil quando não se sabe falar alemão. Ainda que existam informações sobre o espetáculo em materiais escritos em língua inglesa, elas são escassas - principalmente porque muitos deles dão preferência ao filme; e também porque a peça não é vista como um dos trabalhos fundamentais de Fassbinder.
Do que foi possível levantar, sabe-se que As Lágrimas Amargas de Petra von Kant foi escrita em um período conturbado da vida de Fassbinder. Após rodar nove filmes entre novembro de 1969 e novembro de 1970, a companhia teatral/produtora cinematográfica Antiteater havia se desfeito devido a diversas crises internas, muitas delas impulsionadas pela maneira como o próprio diretor liderava a equipe. Suas amizades/colaboradores pareciam tê-lo abandonado. Em 21 de janeiro de 1971, a primeira crítica do longa-metragem televisivo O Café (Das Kaffehaus, 1970) havia sido publicada no periódico diário Süddeutsche Zeitung, de Munique, e a avaliação considerava que a novidade dos filmes de Fassbinder tinha se esvaído. Chegara a hora de Fassbinder fazer uma pausa para compreender melhor os rumos de seu trabalho artístico e de sua vida pessoal.
É lógico que, para um artista como ele, essa pausa seria bastante produtiva. No início de 1970, ele escreveu três peças. A primeira delas foi Blut am Hals der Katze (trad.: Sangue no pescoço do gato). A segunda delas foi justamente As Lágrimas Amargas de Petra von Kant. E a terceira foi Bremer Freiheit (A Liberdade de Bremer), uma adaptação de uma peça do dramaturgo alemão Friedrich Hebbel e inspirada em um incidente histórico: uma série de assassinatos ocorridos na metade do século 19 realizados por uma mulher que envenenou suas vítimas.
Lágrimas Amargas… possui tons bastante autobiográficos, com sua protagonista servindo de alter-ego para o dramaturgo. O romance entre Petra e Karin é inspirado diretamente no romance tórrido vivido entre Fassbinder e Günther Kaufmann, um homem negro bávaro, filho de um soldado estadunidense e o primeiro dos três grandes amores da vida do diretor. Fassbinder conheceu o ator em 1969 no set de uma filmagem para a TV da peça Baal. Enamorado, Fassbinder promete transformar Günther em uma estrela do cinema. No entanto, o ator tinha uma esposa e filhos, mas rapidamente compreendeu que a melhor maneira de tirar proveito da situação era deixar o cineasta em “banho maria”: ora satisfazendo seus desejos, ora rejeitando-o. Um dos motivos para a “pausa” que Fassbinder decidiu tomar em sua carreira foi justamente a dissolução desse relacionamento.
Não consegui levantar muitas informações sobre como ocorreram os ensaios de Lágrimas Amargas… ou o que motivou a escolha daquele elenco. Porém, o motivo para Fassbinder não ser o diretor da primeira montagem teatral é simples: durante sua “pausa”, ele viajou para Paris, onde conheceu El Hedi Ben Salem, um marroquino de pele escura, na sauna árabe Rue Wagram - frequentada por norte-africanos e ponto de encontro da cena gay parisiense. Enamorado, Fassbinder promete transformar Salem em uma estrela do cinema e, no início do verão de 1971, ele estava escrevendo o roteiro de seu próximo filme, ao mesmo tempo em que os ensaios para As Lágrimas Amargas… começaram. Fassbinder optou, então, por passar a direção do espetáculo para Peer Raben.
As Lágrimas Amargas de Petra von Kant estreou em 05 de junho de 1971 em Frankfurt. Uma produção do Landestheater Darmstadt, o elenco era formado por: Margit Carstensen, interpretando Petra von Kant, Elisabeth Gassner (Karin) e Irm Hermann (Marlene). Sobre a formação do elenco, o que se pode afirmar é que Margit Carstensen conheceu Fassbinder em 1969 e se juntou ao seu Antiteater, tornando-se uma de suas atrizes principais.
Quanto à personagem Marlene, Fassbinder já confirmou que ela é inspirada em seu relacionamento com Peer, o diretor do espetáculo - a versão cinematográfica do filme, inclusive, é dedicada a ele, com os dizeres: “Para aquele que, aqui, se tornou a Marlene”. Eles se conheceram em agosto de 1967, quando Fassbinder ingressou no Aktion Theatre, companhia teatral alternativa comandada pela produtora Ursula Straetz e dirigida por Peer. Aos poucos, Fassbinder galgou seu lugar na companhia até ele próprio se tornar o diretor das peças e começar a ter um relacionamento amoroso com Peer. Eventualmente, o Aktion Theatre se desfez e alguns dos membros o transformam na companhia Antiteater, da qual Peer se tornou um dos produtores, além de compositor.
Ao se debruçar sobre a biografia de Fassbinder, é interessante reparar como Irm Hermann é a Marlene na vida do diretor. Antes de entrar para o Antiteater, Fassbinder a conheceu em um sarau, por volta de 1965. A jovem se apaixonou por ele à primeira vista. Irm acabou sendo contratada como agente/secretária do rapaz e, aos poucos, também foi transformada em atriz por ele. Em 1967, durante a montagem de Leonce und Lena pelo Antiteater, a primeira direção teatral de Fassbinder, o diretor passou a morar com Irm. Peer também dormia lá ocasionalmente e, enquanto Fassbinder estava na cama com Peer, Irm dormia no sofá — o trio posteriormente trabalhou junto para transformar a companhia de teatro em uma produtora de cinema.
A recepção da crítica de As Lágrimas Amargas… foi morna. Demorou para que o texto recebesse algum reconhecimento por parte dos estudiosos de teatro da Alemanha naquele período. A versão cinematográfica foi gravada em janeiro de 1972, sob a direção de Fassbinder, e foi lançada naquele mesmo ano. Do elenco original permaneceram Margit e Irm. Hannah Schygulla juntou-se a elas como Karin. Hannah e Fassbinder se conheceram em um curso de teatro após o jovem ter sido rejeitado pela faculdade de cinema. Quando Fassbinder entrou para o Aktion Theatre, ele a convidou para participar das peças. Hannah se tornou uma de suas atrizes principais, ao lado de Irm e Margit — não à toa, ela interpretou a mãe de Peter von Kant, na versão cinematográfica de François Ozon.

O texto de As Lágrimas Amargas de Petra von Kant tem inspiração no gênero hollywoodiano do “woman’s film”, mas com uma protagonista cujos ideais são influenciados pelo Movimento Feminista dos anos 1970. A jornada de Petra na história, no entanto, mostra uma personagem contraditória: se, na primeira cena, ela discute com Sidonie a opressão vivida por ambas em um casamento heterossexual e rejeitando as expectativas de que uma mulher se submeta ao marido; na terceira cena, Petra impõe as mesmas opressões sobre Karin. Petra exige que Karin lhe seja fiel, controla suas oportunidades de trabalho e até faz comentários sobre o que a jovem poderia ou não comer de forma a manter um corpo de modelo. Se Petra se apaixonou por Karin justamente pelo estilo descontraído da garota, ao tentar domesticá-la e transformá-la em uma pessoa refinada, ela acaba por matar esse amor aos poucos. Inclusive, esta contradição já está presente desde a primeira ação ocorrida na peça, por meio da figura de Marlene: a maneira como Petra trata sua assistente quase como uma escrava, explorando sua força de trabalho (tanto servil, como criativo), demonstra a contradição de seu discurso emancipatório. Ao fazer uma crítica sobre papeis de gênero por meio de uma personagem contraditória, Fassbinder demonstra como é difícil ser um agente da mudança quando seu entorno social inteiro (a alta sociedade alemã) fez com que Petra internalizasse essas opressões.
A peça e o filme possuem algumas diferenças. Um primeiro exemplo ocorre na quarta cena, quando Sidonie entrega um presente de aniversário para Petra: o texto do espetáculo não indica qual o presente que está contido na caixa; já no filme, ao abrir o presente, Petra encontra uma boneca loira - um gesto muito sarcástico de Sidonie, como se ela presenteasse Petra com uma versão de Karin.
A mudança mais radical está no instante final, quando Petra informa para Marlene de sua decisão em transformar a relação das duas em algo mais igualitário, uma parceria verdadeira. A peça termina num blecaute após Petra pedir a Marlene: “Me conta da sua vida”, indicando que uma personagem muda a peça inteira finalmente terá algo a dizer. A fala final é um eco de um dos primeiros pedidos feitos por Petra a Karin e demonstra a honestidade na decisão da protagonista. O final indicado pelo texto da peça é aberto; pode indicar tanto que o ciclo de exploração pode continuar, mas é majoritariamente lido como positivo: algo novo está prestes a começar na vida das duas.
No filme, no entanto, assim que ouve isso, Marlene resolve fazer as malas e, sem dizer palavra alguma, deixa Petra sozinha. Uma decisão replicada em pelo menos duas das três montagens brasileiras da peça e no filme de François Ozon. Uma decisão que é bastante questionada pela crítica, inclusive. Tendo a chance de viver de forma igualitária ao lado de Petra, Marlene decide partir, como se ela não conseguisse suportar essa nova condição. Em sua análise do filme, Christian Braad Thomsen interpreta Marlene como uma personagem “tão oprimida que a única maneira que ela tem de sobrevivência é escolher a própria opressão, transformar aquilo que lhe foi forçado em uma condição a qual ela se voluntaria [...]”. O ensaísta teoriza que é por isso que Marlene sente certo orgulho de seu status como serva. “Combinado com sua opressão social, o amor de Marlene por Petra se degenerou em masoquismo puro.”

BRASIL, 1982
Por outro lado, a tarefa de reconstituir as montagens brasileiras de As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, em especial a primeira, foi bem mais simples. Percebi que eu mesmo já tinha materiais sobre essa montagem em meu acervo pessoal. Outros materiais (de programa a recortes de jornal) foram obtidos após ter encontrado um dossiê do espetáculo digitalizado e disponibilizado pela Funarte - todo aquele material foi levantado pelo produtor do espetáculo, Sérgio Britto, durante a trajetória da peça.
A primeira montagem brasileira foi encenada pela companhia Teatro dos Quatro, fundada em 1978 por Sérgio Britto ao lado do casal Paulo Mamede e Mimina Roveda. O texto chegou às mãos de Britto por meio do Instituto Goethe, como parte de um programa de divulgação da cultura alemã no Brasil. Este espetáculo foi a segunda montagem de um texto do Fassbinder no Brasil e também a mais marcante.
Poucos meses após o falecimento de seu dramaturgo, o espetáculo estreou em 02 de agosto de 1982 na sede do Teatro dos Quatro, situada no Shopping da Gávea no Rio de Janeiro (RJ). O texto foi traduzido por Millôr Fernandes e a direção e cenografia foi assinada por Celso Nunes. Ao contrário da montagem original alemã, a primeira versão brasileira foi um sucesso retumbante, com críticos rasgando elogios para o elenco, em especial para a atriz que encarnou a personagem titular, uma atriz cujo talento (e fama) sem dúvida contribuiu para o sucesso do espetáculo: Fernanda Montenegro.
Só que dona Fernanda não era a única grande atriz daquele elenco. Entre os papeis principais, temos outras duas grandes atrizes do nosso teatro: Renata Sorrah, interpretando Karin; e Juliana Carneiro da Cunha interpretando Marlene.. O espetáculo ficou pelo menos dois anos em cartaz no Rio de Janeiro e, depois, partiu em turnê.

Em seu livro de memórias Prólogo, Ato e Epílogo (Companhia das Letras, 2019), Fernanda Montenegro escreve que, embora a peça trate da paixão de Petra, o que interessava ao diretor e seu elenco era mais a visão existencial da personagem. “Deixei claro que seria fundamental ir pelo ‘mistério inarredável’ que todos nós somos”, ela escreveu. Para ela, “a história de Fassbinder é o amor avassalador que se coloca inesperadamente diante de um ser humano, seja e que sexo for.” A atriz não considerou que seria arriscado encanar As Lágrimas Amargas…, apesar do preconceito de boa parcela do público. “A beleza do texto reside na recusa do autor em reduzir a um ‘rótulo’ o amor entre duas mulheres. Nem sempre o relacionamento amoroso, seja de sexo for, contém em si uma salvação [...]. Petra é uma personagem fascinante porque não é tratada como "exceção".

Quando da estreia do espetáculo no Rio, o crítico teatral Macksen Luiz afirmou que o espetáculo era uma das experiências mais emocionantes que um espectador de teatro poderia ter. Uma crítica intitulada Um monstro cada vez mais sagrado foi publicada dia 4 de agosto de 1982 no Jornal do Brasil. O “monstro” em questão é Fernanda Montenegro, e ele dizia ser um privilégio assisti-la “exibindo, de forma plena, a extensão de seu talento.” Assim como outros críticos, ele não foi tímido em estender diversos elogios a atriz, pontuando a primazia da técnica de Fernanda, afiada durante 30 anos de carreira, e revelando que sua interpretação da personagem era surpreendente: “houve um daqueles raros e definitivos encontros entre atriz e personagem”, ele escreveu. Naquela época, a atriz já era chamada de “Primeira Dama do Teatro Brasileiro”. Ele continua:
Nada mais contemporâneo que o seu domínio corporal: na cena em que Petra discute com a amante, a repulsa de um contato físico é sugerida com leve, mas marcante, movimento de corpo para trás. Nada mais surpreendente do que os prodígios que consegue fazer com a sua voz: no meio do choro e do desespero de Petra ao confessar sua ligação homossexual à mãe e à filha, Fernanda a projeta com uma gama de modulações que vai do sussurro ao grito. Nada mais vanguardista do que a forma como revela à plateia a sua técnica de trabalho: a atriz se prepara para a cena final à frente do público, saindo do mais denso desespero para um espelho, diante do qual se penteia, se veste e caminha até um divã. As mudanças de clima dramático se fazem de frente e sem truques para a plateia. (MACKSEN LUIZ)
Ele também destaca o jogo teatral entre Fernanda e as demais atrizes, especialmente na troca fecunda entre ela e Renata Sorrah. Macksen afirma que Marlene foi “tão bem interpretada” por Juliana Carneiro da Cunha. E tece elogios às demais atrizes:
Renata Sorrah captou essa sutileza ao construir a sua Karim - de aparência vulgar, mas libertária no descompromisso com a vida - com o vigor de uma jovem inconsequente cuja vibração, no entanto, permite que o público compreenda seus movimentos interiores. Rosita Thomaz Lopes, num papel mais episódico, tem menor oportunidade, projetando apenas um tipo, da mesma forma que a ainda inexperiente Paula Magalhães. Já Joyce de Oliveira, como a mãe de Petra, nas duas cenas curtas em que participa, tem atuação sensível. (MACKSEN LUIZ)
Assim como Fernanda, Renata Sorrah também já tinha uma trajetória prolífica no teatro, após 13 anos em atividade. Em 1969, ela interpretou Ismênia em uma montagem do grupo Opinião de Antígona (cca. 442 a.C.), de Sófocles. Em 1973, interpretou Nina em A Gaivota (1896), do Tchekhov. Ao lado de Fernanda, elas fizeram parte da primeira montagem de É… (1977), uma peça de Millôr Fernandes. E, por fim, protagonizou a primeira peça de Fassbinder a ser montada no Brasil em 1979. Também produzida pelo Teatro dos Quatro, o título brasileiro era Afinal, uma Mulher de Negócios e a personagem principal se chamava Eva - o título original em alemão é Bremer Freiheit, a terceira peça que Fassbinder escreveu durante sua “pausa”. Renata ganhou o Prêmio Mambembe e um Molière na categoria de Melhor Atriz por sua interpretação como Eva.

Rapidamente as 400 poltronas do Teatro dos Quatro já estavam todas ocupadas para as apresentações de As Lágrimas Amargas… Os ingressos se esgotavam noite após noite. É interessante reparar que, inicialmente, o espetáculo era apresentado no “horário alternativo” da programação teatral: de quarta a sexta-feira às 17h e nas noites de segunda e terça. Após três meses da estreia, as sessões passaram para o “horário nobre”: quarta a sexta-feira às 21h30; sábado às 20h e 22h30; domingo às 18h e 21h; além de matinês de quinta-feira às 17h.
Durante o ano de 1982, o Brasil entrava em num período de redemocratização “lenta e gradual” após 18 anos de ditadura. O AI-5 já havia sido revogado, o que explica o fato de uma peça sobre um amor lésbico não ter sido censurada. Ao norte do continente, o vírus do HIV iniciava o giro mortal da AIDS e chegaria ao Brasil no ano seguinte, revelando o conservadorismo e a homofobia da sociedade brasileira. Curiosamente, o amor lésbico presente na peça não parecia ser uma questão para seus espectadores; nenhum dos recortes de jornal que encontrei no dossiê de Sérgio Britto se detinha sobre essa especificidade além de pontuá-la na sinopse. Em uma reportagem publicada no jornal O Dia em 28 de agosto, Armindo Blanco descreveu a reação da plateia ao final das apresentações:
Quando tudo termina, há uma explosão de aplausos. A plateia, mar humano compacto que se prolonga das poltronas aos degraus alcatifados, distende-se de uma só vez gritando bravos e hurras. Há quanto tempo não se via isto? Eis o teatro de volta, magnético e acutilante. Aquele teatro que, como dizia Hamlet, deve oferecer um espelho à natureza, mostrar à virtude os seus próprios traços, ao vício a sua própria imagem, e a cada época do tempo que passa a sua forma e fisionomia particulares. (ARMINDO BLANCO)
Em uma entrevista conduzida por Frederico Igayara e Mônica Domar, Fernanda Montenegro teorizou que a aceitação do público viria a partir de uma identificação com a solidão vivida por Petra.
Acho que cada um vai chorar por uma razão. Quando os espectadores vêm falar comigo, todos falam na solidão, todos falam também de certos referenciais, como a mãe ou a empregada, sendo estas uma das tantas chaves que tocam o espectador. Outros acham que também é o processo desse posicionamento da mulher moderna contemporânea, que ao tentar ocupar o espaço do homem, com os defeitos do homem, com as deformações do homem, talvez sinta que não é por aí, que seja outro caminho. Outras choram, principalmente mulheres, por uma vivência muito parecida, quer num plano de relacionamento com um homem, quer num plano de relacionamento com uma outra mulher, mas o básico é o processo da solidão humana. (FERNANDA MONTENEGRO)
Em seu livro de memórias, Fernanda finaliza o relato sobre As Lágrimas Amargas… relatando as reações que o público teve ao amor entre duas mulheres visto em cena. Ela escreve que durante os três anos em que permaneceram em cartaz, algumas espectadoras foram ao camarim da atriz para compartilhar suas impressões, mencionando momentos da vida em que se defrontaram com a possibilidade de amar outra mulher. Essas espectadoras, no entanto, não compreenderam aquele sentimento ou não foram capazes de suportá-lo.
Lembro em especial da confissão de uma delas, que tinha uma grande amiga desde a adolescência. Conviviam como irmãs. Casaram-se. Foram mães. Foram comadres. Certo dia, a amiga lhe revelou a paixão de uma vida. Ela a rechaçou. Nunca mais se viram. No camarim, essa espectadora repetia emocionada: "Eu devia ter ouvido a minha amiga. Por que não compreendi a paixão da minha amiga?" (FERNANDA MONTENEGRO)

Ao fazer uma avaliação da cena teatral carioca durante o ano de 1982, Macksen Luiz definiu que aquele era um ano de transição para o país. Nele, o teatro carioca “se equilibrou precariamente entre a retomada de produções de alto nível [e aqui ele cita As Lágrimas Amargas…] e poucas tentativas de experimentalismo.” O título do texto já dá a tônica da avaliação: Fernanda absoluta num ano sem muita ousadia. Não é que ele tenha desgostado de todos os outros espetáculos daquele ano, é que “o espetáculo teatral poucas vezes atingiu aquele ponto, a partir do qual estabelece-se uma comunicação culturalmente enriquecedora, com exceção da inesquecível interpretação de Fernanda Montenegro em As Lágrimas Amargas de Petra von Kant”. Ainda assim, ele cita outras montagens com saldo positivo e afirma que foi no âmbito da cenografia, dos figurinos e da direção musical que o teatro carioca brilhou.
Após um ano e meio da estreia, o espetáculo chegou a comemorar 500 apresentações — neste período, Christiane Torloni havia entrado no lugar de Renata Sorrah para interpretar Karin. Essa marca foi possível de ser atingida devido às cinco apresentações semanais do espetáculo enquanto estava sendo apresentado no “horário alternativo” e às oito apresentações semanais quando passou para o “horário nobre”.
![Páginas do programa do espetáculo As Lágrimas Amargas de Petra von Kant [Teatro dos Quatro, 1983]. Acervo: Sérgio Britto. Digitalização: Funarte](https://static.wixstatic.com/media/4359de_248bf61ac0a346cebcdfe67a20a4bab6~mv2.png/v1/fill/w_980,h_483,al_c,q_90,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/4359de_248bf61ac0a346cebcdfe67a20a4bab6~mv2.png)
Por sua interpretação, Fernanda Montenegro recebeu o Prêmio Mambembe de Melhor Atriz e um Prêmio Especial do Júri do Prêmio Molière. Celso Nunes e Kalma Murtinho também receberam o Prêmio Molière na categoria de Melhor Direção e Melhor Figurino, respectivamente. Aliás, Kalma Murtinho, uma de nossas melhores figurinistas, levou o prêmio não só por As Lágrimas Amargas… como também por outras quatro peças.
As Lágrimas Amargas de Petra von Kant foi para São Paulo em meados de abril de 1984, no Teatro Cultura Artística, com Renata Sorrah de volta ao elenco. A peça chega em terras paulistas já consagrada como o melhor espetáculo da temporada carioca e descrito como “um dos acontecimentos do palco brasileiro moderno” por Sábato Magaldi - um dos maiores críticos e historiadores do Teatro Brasileiro. Quando da estreia paulistana do espetáculo, Sábato escreveu uma crítica intitulada Lágrimas amargas: encontro privilegiado com Fernanda, publicada em 13 de abril no Jornal da Tarde. Nela, ele se perguntava a que se deve a origem dessa “revelação extraordinária” que foi o espetáculo, sem encontrar uma resposta satisfatória:
Nossa formação nos levaria, senão a repudiar, ao menos a ter desconfiança do mergulho que Fassbinder faz no amor homossexual feminino (ou a plateia estaria, inconscientemente, admitindo o componente do indivíduo que foge a heterossexualidade?). Mas sinto que não é por aí que se deve tentar a análise. Prefiro situar o choque de Lágrimas amargas na transmissão da essência do teatro: o encontro privilegiado entre ator e espectador; o diálogo, embora mudo, entre palco e plateia, enriquecendo, de forma inédita, a vida de ambos. (SÁBATO MAGALDI)
Assim como praticamente todos os críticos que escreveram sobre o espetáculo, Sábato também não economizou nos elogios à Fernanda Montenegro. No entanto, ao ler sua análise é possível perceber que o crítico não apreciou a carpintaria do texto de Fassbinder, afirmando que a visita de Sidonie para introduzir o conflito da peça “parece um recurso de autor bisonho”. Sábato levanta como justificativa a idade jovem com a qual o cineasta faleceu, dizendo que Fassbinder não teria tido tempo de aperfeiçoar seu instrumental dramatúrgico.
Sábato também não apreciou as escolhas de direção feitas por Celso Nunes. O crítico afirma que a qualidade na direção reside na condução do elenco: dando foco para o desempenho de Fernanda e trabalhando as demais atrizes de forma a não romper a homogeneidade das atuações. Ele também elogia a interpretação de Renata Sorrah e a troca que ela tem com Fernanda:
Uma dificuldade estava em não permitir que a figura de Karin servisse de escada para o delírio de Petra. Auxiliado pelo talento e pela beleza de Renata Sorrah, o diretor fez com que ela se movimentasse provocadoramente pela cena, aparentando quase inconsciência ou consciência cínica de seu poder. A sedução de Karin se exerce nas marcações na cama, ao folhear uma revista qualquer, e ao enfrentar Fernanda de igual para igual. Esse duelo interpretativo é um dos grandes acertos de Lágrimas amargas. (SÁBATO MAGALDI)
Ainda que ele tenha elogiado a interpretação de Juliana Carneiro da Cunha, afirmando que a atriz tinha sensibilidade inegável e apuro técnico, Sábato não apreciou os interlúdios entre as cenas - neles, Marlene se entregava a passos de dança. Ainda que Juliana também fosse bailarina, o crítico considerava que o gesto brigava com a personagem e o texto. O que o Sábato considerou um erro grave foi o momento final do espetáculo: ocorre que Celso Nunes optou por copiar o filme e fazer Marlene abandonar Petra. Assim como Thomsen, Sábato também apontou para a negação que esta partida implica no aprendizado de Petra.
Alguns meses depois, tendo a oportunidade de assistir a versão cinematográfica dirigida por Fassbinder e a oportunidade de compará-la com a tradução feita por Millôr Fernandes (publicada em 1983 pela editora L&PM), Sábato se deu conta que o abandono de Marlene não foi uma ideia original de Celso. Com isso, em 12 de julho, ele publicou uma reavaliação daquele momento. Ele diz não haver sentido em mencionar a arbitrariedade do encenador, se ele utilizou como fonte o cineasta (portanto, o próprio dramaturgo do texto). Para Sábato, a “polêmica” deixava de ser com Celso Nunes e transferia-se para o responsável pela obra: Fassbinder. “Sou obrigado a convir que a situação se complica, porque se introduzem nela outros fatores”, ele escreveu. “O volume brasileiro abre-se ao diálogo, prenunciando um recomeçar, que se traduz em esperança de vida. São evidentemente desfechos inconciliáveis”.
Sábato encerra sua reavaliação afirmando que “quem lê o texto traduzido por Millôr tem o direito de não concordar com o que se afigura erro da montagem” e encerra sua revisão dizendo que “todas essas questões acabam por tornar-se irrelevantes, em face da poderosa experiência humana transmitida pelo espetáculo”.

As Lágrimas Amargas de Petra von Kant permaneceu em cartaz no Teatro Cultura Artística até 29 de julho de 1984. Após sua participação no espetáculo, Fernanda Montenegro continuou em sua jornada teatral com mais espetáculos, filmes e novelas, que sedimentaram o seu lugar no panteão de grandes atores e atrizes brasileiros. Juliana Carneiro da Cunha imigrou para a França em 1989 e, no ano seguinte, passou a fazer parte do Théâtre du Soleil, um grupo teatral de vanguarda que se propõe a funcionar quase como uma comuna, ainda que sempre sob a direção de Ariane Mnouchkine. Ocasionalmente, Juliana retorna ao Brasil para participações pontuais no audiovisual.
Já Renata Sorrah fez participações icônicas nas novelas Vale Tudo (1988-1989), interpretando Heleninha Roitman, e na primeira fase de Senhora do Destino (2004-2005) como a vilã Nazaré Tedesco. Sua participação no teatro continuou extremamente interessante: foi as personagens titulares de Mary Stuart e Medeia; foi uma das protagonistas em As Três Irmãs, seu segundo Tchekhov; fez dois Shakespeares (Noite de Reis e Macbeth) em papeis de protagonismo. E continua uma presença constante nos palcos até hoje - sua peça mais recente é AO VIVO - dentro da cabeça de alguém (2024), que, de certa forma, revisa a trajetória da atriz.

BRASIL, 2001
A segunda montagem brasileira de As Lágrimas Amargas…, dirigida por Ticiana Studart, estreou em meados de abril de 2001 no Teatro Augusta em São Paulo (SP), onde permaneceu em cartaz até 10 de junho daquele ano. O elenco também trazia duas grandes atrizes brasileiras no trio de personagens principais: Denise Weinberg, interpretando Petra von Kant, e Deborah Secco no papel de Karin - ao lado delas, Miwa Yanagizawa interpretava Marlene. Denise Weinberg é outra atriz que configura em nosso panteão, sendo uma das fundadoras do Grupo TAPA. E, de acordo com a notícia de Luciana Pareja para o jornal Folha de S.Paulo, esta montagem foi a estreia de Deborah Secco no “teatro adulto”.
Em sua crítica para a Folha, o crítico teatral Sérgio Salvia comparou o espetáculo com a versão de 1982, dizendo que, se de um lado a montagem Celso Nunes fazia as pessoas chorarem junto com Petra; de outro lado, a montagem de Ticiana Studart fazia a plateia rir. Sérgio afirmou que o grande mérito da diretora do espetáculo foi justamente o de trazer outra leitura possível do texto. Ele escreve:
Studart, que tem no currículo uma montagem baseada em Bukowski, constrói as personagens por esse olhar amargamente irônico. Gestos estilizados e emblemáticos fixam cada um como peças de xadrez: as mãos de Petra, os ombros de Marlene, as pernas de Karin as caracterizam no primeiro olhar. (SALVIA)
E, depois elogia o trio principal dizendo que Denise Weinberg estava desenvolta no expressionismo das marcas, passando com leveza cinematográfica pelos desejos e angústias da protagonista sem se deixar tragar por eles. Salvia também afirmou que Miwa Yanagizawa se livrou de maneira inteligente das comparações com Juliana Carneiro da Cunha ao criar sua Marlene como um clown do cinema mudo.
Quem vier para checar a beleza de Deborah Secco não perderá a viagem. Deborah constroi com eficiência o glamour vulgar de Karin, tornando verossímil que alguém se apaixone à primeira vista por ela. Se investir na carreira teatral, poderá superar sua limitação vocal e ganhar autonomia criativa, se tornando uma boa atriz. Não ocorre, no entanto, como se imaginava, a oposição entre a técnica teatral e a espontaneidade televisiva. (SALVIA)
O único senão feito pelo crítico foi a radicalidade da leitura, dizendo que as personagens estavam sempre superexpostas, o que negava qualquer intimidade ou sutileza. “O choro é sempre simulado para que o outro ouça, coerente com o universo da peça, no qual é possível ler no jornal a vida pessoal tanto de Petra como Karin. Essa Lágrimas Amargas de Petra von Kant se impõe pela clareza, e não pela sugestão”.

Naquele mesmo ano, simultaneamente com as apresentações de Lágrimas Amargas…, o teatro alternativo Studio apresentava uma versão teatral de Querelle - O Anjo da Solidão, encenada pelo grupo Caminhando de Teatro. Dirigido por Jairo Maciel e protagonizado por Eduardo Poyares, o espetáculo era uma livre adaptação do romance de Jean Genet e do último filme lançado por Fassbinder antes de falecer. Nesta versão, a peça trazia o tema do HIV para o centro da história.
BRASIL, 2024
E quando o assunto é a terceira montagem da peça, produzida pela Cia.BR116, bom, eu sou testemunha ocular. Intitulado simplesmente como Petra, o texto foi traduzido por Marcos Renaux e adaptado por seus diretores Bete Coelho e Gabriel Fernandes. O espetáculo estreou em 13 de julho de 2024 no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo (SP), onde permaneceu em cartaz até 07 de agosto daquele ano. Uma segunda temporada ocorreu no Teatro Sérgio Cardoso, também em SP, entre os dias 02 e 30 de março de 2025. O trio de protagonistas era composto pela própria diretora Bete Coelho interpretando Petra, Luiza Curvo (Karin) e Lindsay Castro Lima (Marlene).

O cenário foi concebido por Daniela Thomas e Felipe Tassara. Era basicamente composto por dois espelhos dispostos na diagonal, formando um espaço quadrangular que servia tanto como o quarto de Petra, como sua sala de visitas / hall de entrada - cadeiras ou uma cama envoltas por muita fita crepe indicavam o lugar onde estávamos. Se o filme de Fassbinder faz uso recorrente dos bonecos e manequins, o cenário optou por outra das simbologias mais recorrentes do diretor: os espelhos – tidos pelo seu biógrafo Christian Thomsen como representação das diferentes possibilidades que a pessoa-refletida poderia ter tomado, se houvesse agido de modo diferente em suas decisões de vida. Na encenação da Cia.BR116, os espelhos-parede do cenário de Daniela Thomas e Felipe Tassara davam a impressão de que Petra vê em Karin uma versão mais jovem de si mesma. Ambas compartilham a mesma impressão negativa sobre a “humildade” que as mulheres devem ter para com seus maridos, rejeitando a submissão (ainda que seja para manipulá-los); o casamento de Karin também parece estar se encaminhando para ter o mesmo desfecho que o de Petra teve.
Assim como na montagem de 1982, as trocas de cena eram conduzidas por Marlene, fazendo as vezes de uma contrarregra. Ainda que Lindsay não seja uma bailarina como Juliana, seus movimentos eram bastante fluídos, quase como se flutuasse. Era nestes momentos de transição que ocorriam os números musicais interpretados pela cantora Lais Lacôrte. Ainda que não fizessem parte da playlist do filme As Lágrimas Amargas…, as músicas escolhidas pelos diretores fazem parte do cancioneiro de outros filmes do Fassbinder, dentre elas: “Lili Marleen” (presente em Lili Marleen, 1981); “Capri Fischer” (Lola, 1981); e “Memories are Made of This” (Die Sehnsucht der Veronika Voss / O Desespero de Veronika Voss, 1982). A direção musical era de Felipe Antunes.
Era interessante reparar nos registros da atuação de cada uma das atrizes desta montagem. A peça era enquadrada pelo olhar de Marlene que, por ser uma personagem que não emite uma palavra sequer, fazia com que Lindsay precisasse equilibrar uma grande expressividade com a sobriedade e discrição exigida pela profissão da personagem – o resultado foi de uma caracterização muito próxima ao Expressionismo Alemão, movimento cinematográfico que antecede o Novo Cinema Alemão e que serviu de inspiração a Fassbinder (ainda que ele não confesse). Por outro lado, Bete criou uma Petra von Kant afetada, próxima das grandes atrizes da Velha Hollywood e um tanto delirante. A Sidonie de Clarissa Kiste segue o mesmo registro; ao lado de Petra, a personagem demonstrava o jogo de aparências e interesses mantidos pelas elites. Tudo isso era quebrado pela chegada de Karin: a atuação de Luiza era mais despojada, entregando suas falas na lata como quem diz o que pensa – e talvez fosse justamente esse o fascínio que ela gerava em Petra.
É bem verdade que esta versão demorava para conquistar o público: com interpretações propositalmente afetadas e um cenário bastante estilizado, parecia que estávamos prestes a assistir a algo experimental, cabeçudo e talvez enfadonho. O início da primeira cena parecia se arrastar, até que a chegada de Karin devolveu a peça ao melodrama. Quanto mais o choque entre ela e Petra aumentava, mais o humor do texto se revelava, fazendo com que o público se deliciasse com o desespero de Petra ao perder seu grande amor, deixando a racionalidade de lado; um verdadeiro schadenfreude.
O espetáculo também se valeu das opções feitas por Fassbinder em seu filme. Sidonie presenteava Petra com uma boneca, algo que no filme era um momento mais reflexivo e, aqui, se tornou uma gag (uma piadoca). Além da decisão de Marlene por fazer as malas e abandonar Petra ao final – uma cena que repetia exatamente as mesmas marcações do filme, repetindo também os objetos que Marlene coloca na mala.

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NOTA
Este texto faz parte de um especial sobre As Lágrimas Amargas de Petra von Kant. O conjunto inclui: Entrelinhas, de Harllan Tavares; e Casa de Bonecas, de Luca Scupino.
APÊNDICE - Os elencos de As Lágrimas Amargas de Petra von Kant
Montagem original (1971), dirigida por Peer Raben
Petra von Kant - Margit Carstensen
Marlene, assistente de Petra - Irm Hermann
Karin Thimm, amante de Petra - Elisabeth Gassner
Valerie von Kant, mãe de Petra - Maria Kayssler
Gabriele von Kant, filha de Petra - Beatrix Martin
Sidonie von Grasenabb, amiga de Petra - Renate Bochow
Versão Cinematográfica (1972), dirigido por Rainer Werner Fassbinder
Petra von Kant - Margit Carstensen
Marlene - Irm Hermann
Karin Thimm - Hannah Schygulla
Valerie von Kant - Gisela Fackeldey
Gabriele von Kant - Eva Mattes
Sidonie von Grasenabb - Katrin Schaake
Primeira montagem brasileira (Teatro dos Quatro, 1982), dirigida por Celso Nunes e traduzida por Millôr Fernandes
Petra von Kant - Fernanda Montenegro
Marlene - Juliana Carneiro da Cunha
Karin Thimm - Renata Sorrah / Cristiane Torloni
Valerie von Kant - Joyce de Oliveira
Gabriele von Kant - Ana Ventura
Sidonie von Grasenabb - Rosita Thomaz Lopes
Segunda montagem brasileira (2001), dirigida por Ticiana Studart
Petra von Kant - Denise Weinberg
Marlene - Miwa Yanagizawa
Karin Thimm - Deborah Secco
Valerie von Kant - Suzana Faini
Gabriele von Kant - Carla Guidacci
Sidonie von Grasenabb - Márcia Duvalle
Peter von Kant (2022), filme escrito e dirigido por François Ozon
Peter von Kant - Denis Ménochet
Karl (Marlene) - Stefan Crepon
Amir Ben Salem (Karin) - Khalil Ben Gharbia
Rosemarie von Kant (Valerie) - Hannah Schygulla
Gabriele von Kant - Aminthe Audiard
Sidonie von Grasenabb, amiga de Petra - Isabelle Adjani
Terceira montagem brasileira (Cia.BR116, 2024), dirigida por Bete Coelho e Gabriel Fernandes; traduzida por Marcos Renaux
Petra von Kant - Bete Coelho
Marlene - Lindsay Castro Lima
Karin Thimm - Luiza Curvo
Valerie von Kant - Renata Melo
Gabriele von Kant - Miranda Frias
Sidonie von Grasenabb - Clarissa Kiste
Participação Especial (cantora) - Lais Lacôrte

REFERÊNCIAS
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AGÊNCIA Estadão. Fassbinder renasce em dois palcos paulistanos. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 21 de janeiro de 2001. Disponível em: <https://www.estadao.com.br/cultura/fassbinder-renasce-em-dois-palcos-paulistanos/>
AS Lágrimas Amargas de Petra von Kant. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obras/181224-as-lagrimas-amargas-de-petra-von-kant. Verbete da Enciclopédia.ISBN: 978-85-7979-060-7
AUGUSTA, Maria. Fernanda Montenegro está de volta com Lágrimas Amargas. Acervo Sérgio Britto / Funarte. 1982. Disponível em: <https://portaltainacan.funarte.gov.br/acervo-sergio-britto-digital/as-lagrimas-amargas-de-petra-von-kant-3/>
AVELAR, Ana Cândida de. “Querelle” é encenado em palco erótico. Folha de S.Paulo, São Paulo, 25 de janeiro de 2001. Folha Acontece. p. 2.
BLANCO, Armindo. A Paixão Exposta. O Dia, 28 de agosto de 1982. Disponível em: <https://portaltainacan.funarte.gov.br/acervo-sergio-britto-digital/a-paixao-exposta/>
COELHO, Sérgio Salvia. Montagem de Studart se impõe pela clareza. Folha de S.Paulo, São Paulo, 12 de abril de 2001. Folha Acontece. p. 1.
FASSBINDER, Rainer Werner. As Lágrimas Amargas de Petra von Kant. Tradução: Marcos Renaux. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2024. 168 p.
FESTA para uma grande dama. O Dia, Rio de Janeiro, 1983. Disponível em: <https://portaltainacan.funarte.gov.br/acervo-sergio-britto-digital/festa-para-uma-grande-dama/>
KATZ, Robert. Love is Colder than Death: The Life and Times of Rainer Werner Fassbinder. 1ª Edição. New York: Random House, 1987. 245 p.
LUIZ, Macksen. Fernanda absoluta num ano sem muita ousadia. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1983. Disponível em: <https://portaltainacan.funarte.gov.br/acervo-sergio-britto-digital/fernanda-absoluta-num-ano-sem-muita-ousadia/>
LUIZ, Macksen. As Lágrimas Amargas de Petra von Kant. In: Macksen Luiz et alii. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017. p 15 - 17. // LUIZ, Macksen. Um monstro cada vez mais sagrado. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 4 ago. 1982. Caderno B, p. 3.
LUIZ, Macksen. Os vencedores do Prêmio Molière. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 1983. Disponível em: <https://portaltainacan.funarte.gov.br/acervo-sergio-britto-digital/os-vencedores-do-premio-molere/>
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MARINHO, F. agora à noite e de ‘Vida nova’. O Globo, 1982. Disponível em: <https://portaltainacan.funarte.gov.br/acervo-sergio-britto-digital/agora-a-noite-e-de-vida-nova/>
MONTENEGRO, Fernanda; GÓES, Marta. Prólogo, Ato, Epílogo. 1ª Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. 342 p.
MURTINHO, Kalma / MURTINHO, Rita; e GREGÓRIO, Carlos (orgs.). Kalma Murtinho: Figurinos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Funarte, 2014. 224 p.
PAREJA, Luciana. São Paulo vê "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant". Folha de S.Paulo, São Paulo, 31 de março de 2001. Folha Acontece. p 2.
Programa da peça “As Lágrimas Amargas de Petra von Kant”. Teatro dos Quatro: Rio de Janeiro, cca. 1982 - 1983. Disponível em: <http://www.sergiobritto.com/obra/teatro/teatro-dos-quatro/as-lagrimas-amargas-de-petra-von-kant/> ou <https://portaltainacan.funarte.gov.br/acervo-sergio-britto-digital/as-lagrimas-amargas-de-petra-von-kant-de-rainer-fassbinder-2/>
THOMSEN, Christian Braad. Fassbinder: The Life and Work of a Provocative Genius. Tradução: Martin Chalmers. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2004. 358 p.
Meu Deus! Fernanda Montenegro e Renata Sorrah, eu não preciso ter assistido pra saber que esta é a melhor versão do espetáculo! Inveja de quem viu