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Foto do escritorMariana Mariotto

Arte dos Mestres aconteceu no mesmo período da SP-Arte, com entrada gratuita para o saber artesanal

Em frente ao ARCA, onde aconteceu a segunda edição da SP-Arte, o Espaço State sediou a Arte dos Mestres, feira inédita realizada pela Artesol. Houve uma diferença interessante entre as duas exposições: ao passo que a SP-Arte teve ingressos a partir de R$35 (meia entrada), em Arte dos Mestres o público foi convidado a conhecer e prestigiar gratuitamente artistas e produções que se encontram fora do circuito tradicional das galerias e exposições de arte.


A Artesol, organização sem fins lucrativos fundada em 1998 pela antropóloga Ruth Cardoso, promove o artesanato por meio da geração de trabalho e renda para comunidades artesãs em todo o país, na busca pelo saber artesanal intrínseco às políticas públicas, culturais e econômicas. Com curadoria de Josiane Masson e Marco Aurélio Pulchério, cerca de 200 obras e mais de 20 artesãos de todo o Brasil se uniram neste evento com o objetivo de valorizar o artesanato brasileiro como patrimônio material e imaterial.


Além do próprio contato com as obras, os visitantes tiveram acesso a entrevistas em forma de vídeo, exibidos ao lado de cada peça, nas quais foi possível observar as oficinas, a metodologia e a produção artística de cada artesão. O público também foi convidado a participar de cinco Encontros com os Mestres, mesas de conversa com artesãos e mediadores, além dos estandes em que mestres criavam obras encomendadas pelos visitantes. Ao longo da exposição, alguns representantes de cada obra se encontram presentes para conversar com o público.


TRONCOS DE VÁRIAS CABEÇAS: Mestre Aberaldo

Esculturas entalhadas feitas em madeira umburana. (Imagem: Mariana Mariotto)



TANGAS DE CERÂMICA MARAJOARA: Mestre Marivaldo Costa

Segundo o Mestre Marivaldo Costa (1971-), que estava presente para falar das obras de cerâmica, os marajoaras foram os únicos povos a utilizar tangas de cerâmica no mundo. As peças expostas pertenciam às mulheres e seus formatos foram feitos sob medida, seguindo a curvatura do corpo. Há três furos nas extremidades, para as amarrações. Marivaldo é ceramista da terceira geração da sua família e desde 1990 se dedica ao estudo e pesquisa da cerâmica arqueológica. Hoje é uma das maiores referências na produção de réplicas de peças deixadas pelos povos que habitavam a Amazônia, como os da região do Marajó, entre os anos de 350 a 1400 a.C.



ESCULTURAS EM ARGILA: Aletícia Ribeiro e Florisvaldo Ribeiro

Iemanjá Negra, Aletícia Ribeiro e Florisvaldo Ribeiro. (Imagem: Mariana Mariotto)



EX-VOTOS DE MADEIRA: Preservados pelo Museu Vivo do Padre Cícero

A palavra ex-voto vem do latim e significa "voto realizado". Ex-votos são objetos doados às divindades ou aos santos como agradecimento por um pedido atendido. Essa prática chegou ao Brasil com os portugueses e é bastante presente até hoje como uma manifestação de fé no catolicismo popular.

Na imagem, os ex-votos apresentados no painel foram oferecidos por fiéis a Padre Cícero como agradecimento pelas graças alcançadas e representam os órgãos ou os membros que foram curados. Alguns possuem detalhes escritos, como palavras de agradecimento ou o nome da pessoa curada.



ESTANDARTES RELIGIOSOS: Clélia Lemos



ESTEIRAS BORDADAS: Povo Mehinaku, da região do Alto Xingu

Feitas de "espinho" de buriti, como chamam as varetas do broto da folha do buriti, linha de algodão colorida e barbante. A confecção das esteiras é realizada pelas mulheres, que criam de acordo com a sua criatividade.

São utilizadas em diferentes atividades do dia a dia: espremer mandioca, armazenar alimentos e plumas e para guardar os objetos sagrados do pajé.



Arte dos mestres

Ao contrário do sistema artístico tradicional, a prática artesanal não busca por um "gênio", mas por um mestre. A diferença entre as denominações está no fato de que o mestre é o artesão legitimado por sua própria comunidade; é quem ensina e difunde para as novas gerações os conhecimentos dos processos e metodologias de seu ofício, tornando sua técnica uma prática compartilhada por aquela comunidade.


Existe, dessa maneira, não apenas a possibilidade de uma multiplicidade de "gênios", dando espaço para vários artesãos talentosos, como também a possibilidade de tornar seus conhecimentos pessoais parte da cultura e prática tradicional de uma comunidade específica. Tal denominação demonstra como o artesanato é uma prática coletiva em seu total, desde o princípio, intensificando a diferença entre o artesanato e o sistema de arte como conhecemos. Nesse sentido, não há motivo ou mesmo sentido em buscar por um gênio no artesanato. Trata-se do fazer artístico em si, da valorização de um conhecimento coletivo. O mestre difunde suas técnicas e processos pensando no bem estar e no crescimento da comunidade, e não de si.


Há tempos que o Brasil vem tentando colocar o artesanato de volta ao mapa. Existem inúmeras iniciativas e organizações que posicionam o artesanato como centro do design brasileiro, como a primeira e a principal forma de expressão artística das populações originárias do território, cultivada ao longo do tempo. No eixo Rio-São Paulo, há respectivamente o Museu A CASA do Objeto Brasileiro e o CRAB (Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro), um dos museus mais importantes do centro da cidade carioca.

"Desejamos que o resultado deste trabalho proporcione a fruição de uma arte afetiva e original, cujas formas, cores e temáticas enaltecem [...] nosso país. Esperamos também que a disseminação do conhecimento sobre a arte popular e o saber-fazer artesanal [...] se espalhe e sirva de inspiração para outras iniciativas, como uma força motriz para a salvaguarda de um patrimônio cultural material e imaterial que garante [...] uma identidade nacional da qual devemos sempre nos orgulhar" – Josiane Masson e Marco Aurélio Pulchério, trecho da descrição de abertura da exposição

Serviço

Arte dos Mestres

Espaço State

Avenida Manuel Bandeira, 360 Vila Leopoldina – São Paulo, SP 30 de agosto a 03 de setembro

Das 11h às 19h Entrada gratuita


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